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Asas Sob a Terra


Hoje encontrei um passarinho morto. Eu havia acabado de acordar num sobressalto, pois ouvi alguém me chamando lá fora e achei que era uma correspondência que eu estava esperando, más quando cheguei ao portão lá estava o passarinho com as patinhas para cima. Nunca antes tinha visto um passarinho morto, já tinha visto pombas esmagadas no asfalto, esqueletos em decomposição. Más assim: simplesmente morto, não. Era visível que a vida tinha acabado de lhe escapar pelas asas, pois, seu corpo estava mole e não haviam vermes saciando a fome fúnebre.

Fique com nojo ou medo, mas toquei naquele pequeno corpo inanimado. O que será que o matou? Uma pedra alada lançada por um estilingue? Não havia marcas em seu corpo. Descartei a hipótese. Um choque no fio? Pouco provável, onde há um passarinho no fio, há muitos e ele havia morrido só e sozinho. Uma doença? Podia ser. Será que o seu coraçãozinho batera rápido demais até mesmo para um pássaro?

Eu não podia deixa-lo ali no meio do concreto de penas para o ar. Encontrei uma propaganda em folheto perto do portão, peguei aquele papel e empurrei o finado para o jardim. Ia fiar ali? Empurrado Por um papel para a terra? No que mudara sua situação? Em nada. Eu teria que enterra-lo. Eu me compadeci daquela pobre ex-criatura.

Ilustração de Patricia Leal
Peguei-o com a mão. Levei para onde minha cabeça avoada dizia ser o lugar mais adequado para enterra-lo. Enterra-lo?Mas por quê? Se ele gostava do ar, das nuvens e do vento passando por suas asas. Pensei em alternativas, más, nenhuma me pareceu mais viável que enterra-lo. E afinal de contas a morte não é a ausência de vida? Então quem curtia todas aquelas sensações já não estava mais ali. Levei aquele pequeno corpo com todo cuidado para não quebrar o pescoço que pendia em minhas mãos. Cavei a terra próximo ao pé de jaca e entreguei aquele corpo morto para onde nasce a vida.

Zine?