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570 pequenos indígenas mortos por negligência do governo Bolsonaro

 


Na última sexta-feira, 20 de janeiro, nossos leitores acordaram com uma frase: “Não estamos conseguindo contar os corpos”. O desabafo de um profissional de saúde que atua na Terra Indígena Yanomami, entre os estados de Roraima e Amazonas, se tornou o título da reportagem que revelou com exclusividade o número aterrador que passou a ser repetido por autoridades e imprensa brasileira e internacional: 570 crianças da etnia Yanomami morreram por causas evitáveis nos quatro anos do governo do extremista de direita Jair Bolsonaro, um aumento de 29%. Na tarde do mesmo dia, Lula anunciou que viajaria a Boa Vista, capital de Roraima. Na comitiva, a parentíssima Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, e a presidenta da Fundação dos Povos Indígenas, Joênia Wapichana, entre vários ministros e autoridades. “Recebemos informações sobre a absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami em Roraima. Amanhã viajarei ao Estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuaremos pela garantia da vida de crianças Yanomami”, afirmou o presidente no Twitter. O Ministério da Saúde decretou então estado de emergência no território Yanomami.

Muito antes dessas noticias tomarem os meios de comunicação diversos canais, sobretudo independentes vinham denunciando as atrocidades que passam os povos originários. Desde Setembro do ano passado (2022) reportam o Garimpo ilegal, os abusos sexuais que passam as mulheres indígenas e a situação de saúde dessas comunidades

"A MULHER YANOMAMI SENTA NO BANCO DE MADEIRA, ESPANTA COM AS MÃOS OS PERNILONGOS QUE TEIMAM EM SE APROXIMAR. O longo colar de miçangas amarelas cruza seus seios descobertos e contorna sua barriga de grávida. O filho, de 4 anos, se aninha a ela, que lamenta sua magreza. “A malária comeu ele”, explica. Na floresta invadida e controlada pelo garimpo, crianças como ele morrem da doença depois de dias ou semanas de febre alta e vômitos ininterruptos. A desnutrição é uma realidade há vários anos e tem se agravado em várias aldeias. Nos territórios controlados pela mineração ilegal, pequenos Yanomami vomitam vermes. Os medicamentos demoram a chegar ou não chegam. Então a mulher começa a nos contar sobre o que teme ainda mais do que a fome e a malária, ainda mais do que crianças vomitando vermes. Ela conta sobre o que fazem com suas vaginas". Publicou o site.

"Quem vai fazer os criminosos pararem de violar os corpos das mulheres, os rios e a floresta?" pergunta.

Essa não é a primeira invasão massiva do território Yanomami. No final da década de 1980, 40 mil homens se espalharam pela região. Levaram vírus, bactérias e armas de fogo. O resultado foi o extermínio de 14% da população. Dessa época, a principal documentação é de Claudia Andujar, fotógrafa que se tornou também uma das principais vozes a ecoar o massacre do povo Yanomami na imprensa internacional. Xawara é como os Yanomami chamam essa onda avassaladora de doenças que mata seu povo. Naquele momento o território não estava demarcado e a comoção global foi determinante para a homologação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, sete anos após a redemocratização do Brasil e quatro anos após a primeira Constituição que reconhecia os direitos dos povos originários.

Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), foi possível verificar dados alarmantes: os casos de malária, doença que se espalha no território com os garimpeiros, saltaram de 2.928, em 2014, para 20.394, em 2021; 46 crianças com menos de 5 anos haviam perdido a vida só nos primeiros 5 meses de 2022 pelo que as estatísticas chamam de “causas evitáveis” (falta de tratamento médico e prevenção) e 52,7% dos pequenos Yanomami com menos de 5 anos estavam desnutridos. As informações exclusivas também mostravam que, desde julho de 2020, polos de saúde que funcionam dentro do território Yanomami foram fechados por 13 vezes por conta das ações dos garimpeiros, deixando os indígenas sem atendimento médico. Depois desta reportagem de estreia, seguimos acompanhando de perto a escalada de violações no território. No início de dezembro, ainda no governo Bolsonaro, nossas fontes no território começaram a enviar fotos e relatos aterradores de crianças e velhos, especialmente, com desnutrição severa causada por fome, malária e outras doenças. As notícias das mortes eram constantes, o tom dos relatos, desesperado.



 

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